Maluco beleza que ganhou fama como autor do bordão “gentileza gera gentileza”, José Datrino (1917-1996) pintou esse e muitos outros dizeres poéticos em 56 pilares do Viaduto do Caju, na Região Portuária, entre as décadas de 1980 e 1990. O Profeta Gentileza, como se tornou conhecido, teve sua arte urbana tombada pelo município há 23 anos e inspira o nome do terminal de transportes que está prestes a ser concluído na região. A fuligem, no entanto, está cobrindo os murais, espalhando um tom acinzentado pelos versos, antes pintados no concreto nas cores verde e amarela. Pelo menos seis painéis foram danificados por ação humana. Em três deles, palavras foram queimadas pelas chamas de fogueiras acesas por pessoas em situação de rua, que vivem sob o abrigo do elevado. Outros estão desbotados pela ação do tempo.
Às vésperas da inauguração do Terminal Gentileza, os textos do Profeta Gentileza correm o risco de desaparecer. Além de submetidas à poluição dos veículos que passam por lá, as pinturas também são alvo de pichações e de anúncios informais, que, por vezes, acabam encobrindo as mensagens. Ameaçadas em outras ocasiões, as escrituras já passaram por dois processos de restauração. No primeiro, em 2000, tinham sido completamente cobertas de tinta. A segunda, e última intervenção, aconteceu em 2011. Desde então, nenhum reparo foi feito nas pinturas expostas ao longo de 1,5 quilômetro.
Arquiteto e ex-subsecretário de Patrimônio Cultural do Rio, Washington Fajardo defende a implantação de iluminação especial nos pilares do elevado. “Além do cuidado para manter a preservação dos escritos, com a manutenção periódica, uma solução possível seria a colocação de luminárias ao longo do trajeto. Além de dar mais visibilidade à obra, a iluminação especial poderia auxiliar na fiscalização do espaço público”, sugeriu.
A Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos (CCPar), responsável pelas obras, afirma que as pinturas serão recuperadas, mas que ainda não há uma data prevista para o início do trabalho.
Gentileza”, responsável pela restauração da obra de Gentileza nos pilares do Viaduto do Caju, em 2011.