Frequência de tempestades deve aumentar 30%na próxima década

A frequência de tempestades classificadas como severas, com alta carga de raios e ventos fortes, tende a crescer entre 20% e 30% de 2025 a 2034, na comparação com os dez anos anteriores no Rio de Janeiro e em São Paulo. A projeção foi feita por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Segundo os especialistas em eletricidade atmosférica da instituição, a alta incidência de raios em janeiro na capital paulista já é um sintoma de um agravamento desse tipo de evento. Para os pesquisadores, o fenômeno é impulsionado pela mudança climática global e pela intensidade do El Niño, o superaquecimento das águas do Pacífico.
O resultado para o Sudeste está dentro das projeções usadas pelo IPCC em seu último relatório de avaliação, de 2022. Para projetar a mudança ao longo dos próximos dez anos, porém, os cientistas alimentaram modelos matemáticos (simulações computacionais do clima) com dados mais recentes, incluindo tempestades dos últimos dez anos.
Segundo Osmar Pinto Jr., cientista do Inpe, mesmo levando em conta a margem de erro e a variabilidade dos modelos, é virtualmente certo que as tempestades severas vão aumentar. “Todos os nove modelos apontam aumento na frequência de tempestades seve-ras, ainda que o tamanho do aumento projetado varie entre um modelo e outro”, explicou.
Apesar de as tempestades de categoria severa representarem apenas cerca de 1% das que ocorrem no país, o Brasil é recordista mundial de chuvas fortes com raios e ventos, com cerca de 500 mil ocorrências por ano. Mas a pequena porcentagem severa já representa 5 mil eventos extremos por ano.

Nos últimos anos, o vento tem sido o fator de maior impacto na infraestrutura, derrubando postes e instalações elétricas, como nos apagões de novembro de 2023 e outubro de 2024 na capital paulista.

As descargas elétricas atmosféricas provocam menos impacto numa cidade com muitos para-raios, mas também são preocupante porque provocam mortes. As cidades que lideram o ranking de mortes por raio são Manaus e São Paulo, ambas com 30 cada uma nos últimos dez anos. O Rio teve 10 no mesmo período.

— Em São Paulo, o número absoluto de mortes é maior por causa da concentração populacional. Em Manaus, a taxa é alta porque uma parcela grande da população trabalha e se desloca muito exposta ao ar livre — diz Pinto Jr.

O aquecimento local dessas metrópoles também foi influenciado pela urbanização. O asfalto e as construções no lugar de solo e da vegetação agravam o calor.

A temperatura em São Paulo hoje chega facilmente a mais de 30°C em alguns pontos mais áridos da cidade, mesmo num dia em que os termômetros batem 28°C na estação meteorológica do Inmet em Interlagos, como ontem.

A projeção de Pinto Jr. para a próxima década, porém, não considera aumento do efeito de ilha de calor. O motivo é que não há perspectiva de avanço da urbanização nas duas cidades neste século na mesma medida que ocorreu no século XX.

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