O samba ganhou uma casa para chamar de sua. Nela, os imortais da batucada são identificados como “notórios eternos” e também têm assentos vitalícios, como na Academia Brasileira de Letras (ABL). As semelhanças param por aí. Enquanto na ABL são 40 os membros, na recém- criada Academia Brasileira de Artes Carnavalescas (Abac) o número de integrantes lembra o de uma ala de escola de samba: a intenção é chegar a 200, com representantes de toda a engrenagem da folia do Rio e de outros estados
Os participantes formarão uma espécie de conselho, composto por carnavalescos, intérpretes e compositores, além de costureiras e aderecistas, passando por passistas, escultores, ritmistas, mestre-sala e porta- bandeira, ou seja, todos os artistas e profissionais que fazem a maior festa popular do país. Os 100 primeiros nomes já foram empossados na abertura da instituição, no início desta semana.
“São pessoas que dominam algum tipo de saber. A gente quer documentar esse conhecimento, através de entrevistas, vídeos e gravações, para que seja eterni-zado”, explicou o presidente da academia, Milton Cunha, que durante anos atuou como carnavalesco e atualmente é comentarista de carnaval.
Entre os acadêmicos já estão confirmados a cantora Teresa Cristina, os carnavalescos Paulo Barros (Vila Isabel) e Leandro Vieira (Impe-ratriz Leopoldinense), o mestre de bateria da Viradouro, Mestre Ciça, a rainha de bateria da Mangueira, Evelyn Bastos, os compositores Tiãozinho da Mocidade e Marquinhos de Oswaldo Cruz, os historiadores Luiz Antonio Simas e Helena Theodoro, a passista Nilce Fran e o jornalista, escritor, comentarista da TV Globo e jurado do Estandarte de Ouro Leonardo Bruno, entre outros. Célia Domingues, diretora de eventos da Mangueira, é a vice-presidente e a carnavalesca Rosa Magalhães, a presidente de honra (in memoriam) — ela morreu em julho.
A nova academia quer discutir a folia, formar e aperfeiçoar mão de obra, através de cursos, workshops e oficinas, além de funcionar como centro de memória. O térreo de um prédio da Travessa do Ouvidor, onde por 40 anos funcionou um restaurante, recebeu investimentos de cerca de R$ 250 mil e passou por obras para abrigar a instituição, um dos projetos relacionados direta ou indiretamente ao samba e ao carnaval incluídos no programa “Reviver Centro Cultural”, da prefeitura, concebido para revitalizar a região.
A gente tem recepção, salão para aulas práticas de samba no pé, mestre-sala e porta-bandeira, batuque, mestre de bateria, coreografia de ala e outros. Outro espaço é para cursos de costureira, modelista, decorador, chapelaria e toda essa parte mais prática. A gente vai bombar aquele lugar ali”, prevê Milton Cunha.
Tenório, um dos curadores do local, que vai oferecer cursos e terá espaços para exposições e palestras.
O pandeiro, um dos instrumentos mais associados ao samba e ao carnaval, também vai ter endereço próprio, na Travessa do Ouvidor.
— Não existe samba sem pandeiro. Ele resume a percussão — define Clarice Magalhães, idealizadora da Casa do Pandeiro, que pretende preservar, divulgar e documentar a história do instrumento.